sexta-feira, 9 de setembro de 2011



'Hoje me bateu uma saudade. Saudade de quando a chuva caía lá fora e o vazio não crescia aqui dentro. Saudade da época em que os dias eram mais claros e as noites eram menos sombrias. Saudade de quando os sorrisos eram felizes e os olhares tinham uma direção. Saudade de quando os sentimentos eram verdadeiros e a vida tinha uma razão. Agora as folhas caem lá fora, e o tempo passa aqui dentro. Passa sem perdoar, e eu tento não me perder. Não me perder nas lembranças, não me perder nos momentos, na ilusão, na saudade, não me perder na solidão. O tempo passa, abre feridas, deixa cicatrizes. O tempo passa e eu vou ficando, permanecendo no mesmo lugar, com a mesma dor, com a mesma angústia, com o mesmo medo. Pés frios, mãos geladas, lábios trêmulos, coração endurecido. Agora a porta permanece trancada para ninguém entrar, para ninguém mais me magoar. Eu tinha um coração, um coração inteiro que agora permanece destruído, quebrado. Um coração que as pessoas não se importam. Um coração que as pessoas pisam, desprezam, como se ele fosse um objeto, como se ele fosse brinquedo. Será que não conseguem perceber a dor que causam aqui dentro? Será que não percebem o quanto dói? Os pingos de chuva caem com força em meio a tempestade, e com ritmo igual caem as lágrimas, que molham a minha face, prendem a minha respiração, sufocam o meu ar. Mas logo desaparecem. Somem em meio aos lenços, aos papéis, e as memórias. Então, olho-me no espelho e inicio a sessão de ensaio. Começo a ensaiar o sorriso do dia seguinte, aquele sorriso que vai disfarçar o que se passa aqui dentro, dentro de mim. E disfarço tão bem, de maneira tão perfeita que todos passam a acreditar. Eu mesma venho a crer que estou bem. Aprendi a fingir muito bem, e vai continuará assim.'

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